Por Atanásio Mykonios
Em
1968 houve uma reforma educacional. O governo mudou drasticamente o caminho da
formação até então marcado por um processo de aproximação e diálogo com as
sociedades. Isto significava não apenas uma censura, sobretudo representava a
exclusão de todas as condições de reflexão, de crítica e engajamento que
principalmente as universidades haviam exercido. Os problemas do Brasil e do “homem
brasileiro” estavam na formação, no ensino e nas escolhas pedagógicas. Em outras
palavras, a formação dos estudantes levava em conta a história, a antropologia,
a filosofia, a sociologia e psicologia. Até profissões técnicas passavam por
esse crivo crítico.
Conhecer
a realidade social era uma questão de construção das condições em que essa
realidade se impunha. Até um engenheiro deveria saber de sua realidade ao
construir pontes e estradas.
A
partir de 1968, houve um corte radical. O que interessava era uma formação
eminentemente técnica. Houve um rebaixamento na qualidade do ensino
universitário. As universidades tiveram uma baixa estrutural, foram
burocratizadas a fim de haver maior controle. Elas passaram a ser niveladas aos
bons cursos técnicos fora do país.
Gerações
de técnicos foram formadas a partir de então. O que importava para o currículo
eram apenas e tão-somente os saberes técnicos necessários para o exercício de
uma boa profissão. Assim, milhões foram adestrados a cumprirem exclusivamente
determinações técnicas relativas ao seu ofício.
Nada
de política, nada de crítica, nada de reflexão. O que importava era a boa
disciplina para aprender – o bom aluno era aquele que se dedicava aos estudos
de forma pragmática, sem pestanejar a fim de seguir seu caminho e ser alguém na
vida. Ou seja, uma exclusão total da dialética do real!
De
certa forma, o que ocorre hoje é a repetição desse processo. Nada de história,
nada de filosofia, nada de ciências sociais. Tudo isso é balela para grupos
fundamentalistas e autoritários. Os problemas sociais não devem ser tratados em
absoluto. Ao contrário, esses problemas são suscitados como forma de provocação
“ideológica”, vindos do campo da esquerda. Como, ao que tudo indica, não
teremos uma nova ditadura (ao menos isso não se avizinha no horizonte próximo),
os grupos reacionários querem novamente impor uma formação estritamente
técnica.
Para
esses grupos não há necessidade de aprofundamento das condições da realidade
social no âmbito acadêmico, em especial. Tudo isso é balela, o que importa é o
domínio da técnica, aliado ao adestramento, à obediência, ao controle e à eficiência
capitalista.
É
bem verdade que os atuais governantes não se preocupam muito com essa questão. Para
os capitalistas, o que importa é a eficiência produtiva da formação
sistematizada em forma de educação regular. E assim esse grupos se aproveitar
para arrancarem seus nacos de poder e reproduzirem a história numa roda-viva
positivista pós-moderna.