terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

TV e Utopia

Atanásio Mykonios


Nada em nossa cultura pode existir sem a TV. Muito foi dito, escrito e refletido acerca do maior fenômeno de comunicação da história humana. Muitos se perguntam se cabe à TV exercer o papel educativo imaginado pela escola funcional e formal da modernidade. o senso comum parece desconfiar da missão hercúlea da TV em formar as mentes e almas dos indivíduos. A TV se torno um elemento constitutivo da cultura, tanto mais importante do que qualquer veículo de comunicação. O privilégio ainda é da TV e penso que será por longo tempo, as massas são informadas pela TV, o melhor e mais fácil acesso ao entretenimento se faz pela TV. Valores, tradição, comércio, publicidade, tudo isso recheado de contadores de história. Filmes, novelas, documentários, tele-teatro, celebrações religiosas, esporte.
Alguns acreditam que a vida é escondida pela TV. O mundo é, por um lado, apresentado de forma crua e real, mas, no lado oposto, ele é construído por meio de imagens que saltam aos olhos de sorte que outros mundos são refletidos a partir do que é exibido. Incrivelmente, todos seguem as ideias apresentadas pela TV e sobretudo, somos capazes de informar nosso corpo e nosso cérebro com imagens que se tornam verdadeiras, no sentido de que é bom que sejam verdadeiras, como os sonhos de um mundo que não existe concretamente, mas pode ser que em algum lugar no futuro ele se torne realidade.

Por isso, a TV é o lugar sem lugar, a visão do que está por vir sem nunca existir, o estado de espírito que converge para abstração absoluta de ideias e visões que clarificam o impossível como fonte de realização do ser humano.
Sim, para além da ciência, do escrutínio das teorias e o certame da vida competitiva, há um sonho que a TV nos propõe, é o lugar u-tópico, que não se toca, é visto à distância, na memória fugidia de uma espécie de ânsia por realização plena do ideal humano.

Me parece que a TV é a plena consubstanciação do ideal platônico, do hiper-céu, do lugar acima de todos os lugares, o cume e o ápice das visões totais da existência. Ela aponta para isso de forma a nos envolver sem que tenhamos certeza de que alcançaremos o lugar sem lugar.
E ao apontar revela a estupidez e a brutalidade reificadas diariamente no imenso palco a ser desvendado nas suas minúcias mais irrelevantes. O palco da nossa própria condição humana, por milhares de anos encoberta pela vastidão das solidões que nos ensinavam sobre nós mesmos. Agora, somos luzes nesse palco anônimo, em algum momento seremos descobertos e surgiremos altivos no contexto das imagens fortuitas.

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