Atanásio Mykonios
Nada
em nossa cultura pode existir sem a TV. Muito foi dito, escrito e refletido
acerca do maior fenômeno de comunicação da história humana. Muitos se perguntam
se cabe à TV exercer o papel educativo imaginado pela escola funcional e formal
da modernidade. o senso comum parece desconfiar da missão hercúlea da TV em
formar as mentes e almas dos indivíduos. A TV se torno um elemento constitutivo
da cultura, tanto mais importante do que qualquer veículo de comunicação. O
privilégio ainda é da TV e penso que será por longo tempo, as massas são
informadas pela TV, o melhor e mais fácil acesso ao entretenimento se faz pela
TV. Valores, tradição, comércio, publicidade, tudo isso recheado de contadores
de história. Filmes, novelas, documentários, tele-teatro, celebrações
religiosas, esporte.
Alguns
acreditam que a vida é escondida pela TV. O mundo é, por um lado, apresentado
de forma crua e real, mas, no lado oposto, ele é construído por meio de imagens
que saltam aos olhos de sorte que outros mundos são refletidos a partir do que
é exibido. Incrivelmente, todos seguem as ideias apresentadas pela TV e
sobretudo, somos capazes de informar nosso corpo e nosso cérebro com imagens
que se tornam verdadeiras, no sentido de que é bom que sejam verdadeiras, como
os sonhos de um mundo que não existe concretamente, mas pode ser que em algum
lugar no futuro ele se torne realidade.
Por
isso, a TV é o lugar sem lugar, a visão do que está por vir sem nunca existir,
o estado de espírito que converge para abstração absoluta de ideias e visões
que clarificam o impossível como fonte de realização do ser humano.
Sim,
para além da ciência, do escrutínio das teorias e o certame da vida
competitiva, há um sonho que a TV nos propõe, é o lugar u-tópico, que não se
toca, é visto à distância, na memória fugidia de uma espécie de ânsia por
realização plena do ideal humano.
Me
parece que a TV é a plena consubstanciação do ideal platônico, do hiper-céu, do
lugar acima de todos os lugares, o cume e o ápice das visões totais da
existência. Ela aponta para isso de forma a nos envolver sem que tenhamos
certeza de que alcançaremos o lugar sem lugar.
E
ao apontar revela a estupidez e a brutalidade reificadas diariamente no imenso
palco a ser desvendado nas suas minúcias mais irrelevantes. O palco da nossa
própria condição humana, por milhares de anos encoberta pela vastidão das
solidões que nos ensinavam sobre nós mesmos. Agora, somos luzes nesse palco
anônimo, em algum momento seremos descobertos e surgiremos altivos no contexto
das imagens fortuitas.
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